Portáteis e telemóveis são os novos «diamantes de sangue»

Tecnológicas acusadas de contribuírem para financiar guerras
Minerais da zona de conflito são usados no nosso dia a dia Muitos anos depois de ter sido denunciada a chacina que estava na origem dos chamados «diamantes de sangue», surge agora uma nova polémica em torno da exploração de minerais em alguns países africanos, que pode criar expressões como telemóveis e computadores de sangue.

Os «diamantes de sangue» são assim chamados porque estas pedras preciosas alimentam conflitos, guerras civis e violações dos Direitos Humanos, e têm sido responsáveis pelo financiamento de conflitos recentes em África que resultaram na morte e no deslocamento de milhões de pessoas.

A denúncia partiu há vários anos da organização não governamental (ONG) Global Witness. De acordo com a mesma, durante estes conflitos, as receitas do tráfico de diamantes ascendem a biliões de dólares e têm sido usadas pelos senhores da guerra e pelos rebeldes para comprar armas. Estima-se que já morreram 3,7 milhões de pessoas devido ao conflito causado pelos diamantes em Angola, na República Democrática do Congo (RDC), na Libéria e na Serra Leoa.

Agora, a Global Witness veio fazer uma nova denúncia. A ONG diz que muitas empresas multinacionais estão a proceder ao comércio de minerais no coração do mundo da tecnologia, que está a financiar a guerra civil na República Democrática do Congo.

Lâmpadas, MP3 e consolas de jogos usam minerais conflituosos

Uma reportagem da revista «Time» revela que a função «vibrar» dos telemóveis é activada pelo uso de um mineral chamado wolframita, que é extraído na região do conflito que decorre no Congo. Um conflito que, de acordo com a revista, é financiado pela exportação de metais usados em produtos tecnológicos.

Mas o wolframita não é o único mineral de utilização tecnológica com origem no centro do conflito e a financiá-lo. Cassiterite, coltan e ouro também são extraídos na região. Uma lista de minerais usada para os mais diversos fins, desde as vulgares lâmpadas eléctricas até computadores portáteis, MP3 e consolas de jogos.

Os protagonistas do conflito têm aproveitado a elevada procura por estes minerais para retirar algum proveito e assim financiarem a compra de armamento. Agora, a Global Witness garante ter seguido a cadeia de abastecimento destes minerais, dos senhores da guerra aos intermediários e aos compradores internacionais. A ONG assegura que, quando chegam à posse das tecnológicas, estes minerais podem já ter trocado de mãos até sete vezes. Ou seja, é bem possível que o leitor, ao colocar o seu telemóvel no modo vibratório, usando o mineral wolframita, possa estar a usar um mineral originário da zona de conflito, usado para financiar guerras sangrentas.

HP, Dell, Nokia e Motorola na lista das visadas

O estudo da Global Witness, intitulado «Faced with a Gun, What Can You Do?» levanta suspeitas sobre o envolvimento de 240 empresas na ligação entre as indústrias de mineração, metalurgia e tecnologia. A ONG aponta o dedo especificamente a quatro grandes corporações europeias e asiáticas, que compram estes fornecimentos: a Thailand Smelting and Refining Corp. (detida pela British Amalgamated Metal Corp.), a British Afrimex, a Belgian Trademet e a Traxys. E questiona ainda o papel de outras, ao longo da cadeia de transformação destes bens, incluindo empresas de renome do mundo tecnológico, como a Hewlett-Packard (HP), Nokia, Dell e a Motorola, afirmando que, mesmo que estejam a agir dentro da lei, nada fazem pela clareza e transparência do processo.

Para a investigadora responsável pela equipa da Global Witness no Congo, Carina Tertsakian, o recurso a estas mercadorias não é ilegal, mas sim, «uma questão de vontade. Se as empresas querem seriamente fazer negociar de uma forma clara e limpa, têm meios para fazê-lo».

As empresas acusadas negam qualquer culpa, e dizem que a Global Witness está a simplificar demasiado um processo económico complexo num cenário geopolítico de autêntico caos. Agência Financeira\pplware

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